No fundo, tenho um certo temor do que escrever, pois preciso do teu grito, berro, ódio. Não te quero confortável, quero beber tua agonia, tua dor, tua poesia quero teu suor, tua espera e teu sangue, para meu buraco negro, que suga devolver em poesia! Hoje que estou poeta em pele de cordeiro, te mato e te faço o parto em cada verso, dou-te vida e agonia mas as palavras ainda me assustam como um corpo que acaricio e arranho, num falo que falo, mas te ensino o caminho da paciência e da tortura, com uma faca que tatua a minha loucura no peito que esfolo ao escrever versos de distância e de insolência num silêncio cruel, hoje não tenho referência dimensional, tenho versos, reversos, inversos, anversos, tenho esses amontoados de palavras, onde sou mais eu que eu mesmo nesta verdade senil.
Queria te dizer que há algo de mar em ti, corro o risco de não alcançar o objectivo de definir a imagem que enxergo Mar, infinito e curvo, mas do outro lado, a fragilidade da poesia, sinto-me vazante, inconstante e profundo, pois desse teu mar vi um outro tempo, vastidão de dúvidas, contradições, sentidos e música, mas é onde encontro uma janela para um mundo que não deixas ninguém penetrar, de interrogação em forma de poesia, contestação em verso branco, em folha virgem, ansiando por um poema profano. Tento passar pela boca e pela pena o que me vai por dentro, nesse teu pensamento perdido o tempo desaparece, a solidão some-se e encontras-te, tudo deixa de existir e o equilíbrio regressa por fim ao teu Universo. Como se fizesses desvanecer tudo o que é mau, que causa dor, e que entristece. Num grão de um sonho de um verso de areia, esse é o mar sílica e lágrima, mas sei que tu me sabes apenas poesia, e que sorris ao enxugares os olhos de mar. Mas se tudo que escrevo falhar, ainda há o mar, os olhos, a lua e os poemas, depois podemo-nos vestir de gente e voltar, mas tu anseias pela dor e pelo gozo, eu sei essa coisa de entranhas, sangue, nervos, carne, tenho caninos nos versos e na mente pressinto escuridão e luz.
Sem comentários:
Enviar um comentário