Numa esquina, num táxi, numa segunda-feira à noite, no meio do cigarro, ao levantar da cama: me descabelo por um amor que não existe. O mundo está em mim e eu finjo estar nele, pois só quem já provou a dor, quem sofreu, se amargurou, que no certo procurou, mas no errado se perdeu, por isso choro por tudo que se perdeu, por tudo que apenas ameaçou e não chegou a ser, pelo que perdi de mim, pelo ontem morto, pelo hoje sujo, pelo amanhã que não existe, pelo muito que amei e não me amaram, pelo que tentei ser correto e não foram comigo. Meu coração sangra com uma dor que não consigo comunicar a ninguém, recuso todos os toques e ignoro todas tentativas de aproximação. Tenho vergonha de gritar que esta dor é só minha, de pedir que me deixem em paz e só com ela, como um cão com seu osso. A única magia que existe é estarmos vivos e não entendermos nada disso. A única magia que existe é a nossa incompreensão.
Mas hoje descobri que é no conflito que a vida faz crescer, e o ódio uma forma tão estranha de amar! No pouco me encontrei, aprendi a multiplicar descobrindo o dom de eternizar. Só quem perdoou na vida sabe o que é amar
porque aprendeu que o amor só é amor se já provou alguma dor assim, viu grandeza na miséria, descobriu que é no limite
que o amor pode nascer! Tenho orgulho de mim.
Renascer de um momento complicado, em que a vida tem me parecido selva de loucos, somatória confusa de incompreensões e gestos de pessoas pouco saudáveis. Vejo que não quero perder tempo com o que não tem nenhum nobre objectivos por trás. Não quero me desperdiçar com a pequeneza alheia - já me bastam as minhas próprias e elas não são poucas.
Quero aproveitar o meu tempo e economizar a minha vida. Dedicar-me ao que vale a pena e simplesmente deletar a mesquinharia de sentimentos alheia.
Motivos para comemorar? Tenho um só: sou uma pessoa melhor do que era alguns meses atrás.
Isso sim me deixa feliz.
Isso sim me preenche, me ilumina e me dá esperanças.
Tudo mais é ilusão.
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